sexta-feira, 24 de julho de 2009

Porcos Assados

Vi o texto e gostei =)


Certa vez irrompeu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos, que foram assados pelo fogo. Os homens, que até então comiam carne crua, experimentaram a carne assada. Acharam-na deliciosa. A partir daí, toda vez que queriam comer porco assado, incendiavam um bosque. O tempo passou, e o sistema de assar porcos continuou basicamente o mesmo.

Mas as coisas nem sempre funcionavam bem: às vezes os animais ficavam queimados demais ou parcialmente crus. Os especialistas alegavam que o fracasso do sistema se devia à indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam, à inconstante natureza do fogo, tão difícil de controlar, ou, ainda, às árvores, excessivamente verdes, ou à umidade da terra, ou ao serviço de informações meteorológicas, que não acertava o lugar, o momento e a quantidade das chuvas.

Como se vê, era difícil isolar o problema – na verdade, o sistema para assar porcos era muito complexo. Fora montada uma grande estrutura: havia maquinário diversificado, indivíduos dedicados a acender o fogo – os incendiadores – e especialistas em ventos – os anemotécnicos. Os incendiadores se subdividiam em categorias, conforme o treinamento: incendiadores da zona norte, da zona sul, de inverno e de verão, de fogo diurno e de fogo noturno e assim por diante. Havia um diretor-geral de Assamento e Alimentação Assada, um diretor de Técnicas Ígneas, um administrador-geral de Reflorestamento, uma Comissão de Treinamento Profissional em Porcologia, um Instituto Superior de Cultura e Técnicas Alimentícias e o Bureau Orientador de Reformas Igneooperativas.

Eram milhares de pessoas trabalhando na preparação dos bosques, que logo seriam incendiados. Havia especialistas estrangeiros estudando a importação das melhores árvores e sementes e a produção de chamas mais potentes. Havia grandes instalações para confinar os porcos antes do incêndio, além de mecanismos para deixá-los sair apenas no momento oportuno.

Mas um dia, Joboão, um humilde incendiador do grupamento norte-inverno-diurno, resolveu dizer que o problema tinha fácil solução: bastava, primeiramente, matar o porco escolhido, limpá-lo e cortá-lo adequadamente e colocá-lo então em uma grade de ferro, sobre brasas, até que o efeito do calor – e não as chamas – assasse a carne, sem estorricá-la.

Tendo sido informado sobre as idéias de Joboão, Absalão, o diretor-geral de Assamento e Alimentação Assada, mandou chamá-lo ao seu gabinete:

“Tudo o que o senhor propõe está correto, mas não funcionaria na prática. O que o senhor faria, por exemplo, com os anemotécnicos, caso viéssemos a aplicar a sua teoria? E com os incendiadores de diversas especialidades? E os especialistas em sementes? Em árvores importadas? E os desenhistas de instalações para porcos, com suas máquinas purificadoras de ar? E os conferencistas e estudiosos, que ano após ano têm trabalhado no Programa de Reforma e Melhoramentos? O que eu faria com meu bom amigo (e cunhado), presidente da Comissão para o Estudo do Aproveitamento Integral dos Resíduos das Queimadas? O que eu faria com todos eles, se a sua sugestão fosse aceita?”

“Não sei”, disse Joboão, encabulado.

“O senhor percebe agora que a sua idéia não atende às nossas conveniências? O senhor não vê que, se tudo fosse tão simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução há muito tempo? O senhor, com certeza, compreende que eu não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a assar um porco por vez, sobre brasas, sem chamas. O que o senhor espera que eu faça com os quilômetros de bosques já preparados, cujas árvores não dão frutos e sequer têm folhas para dar sombra? E o que fazer com nossos engenheiros em porcopirotecnia? Vamos, diga-me!”

“Não sei, senhor.”

“Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia por aí dizendo que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério do que o senhor imagina. Aqui entre nós, devo recomendar-lhe que não insista nessa sua idéia – isso poderia trazer problemas para o senhor no seu cargo.”

Joboão, coitado, não deu mais um pio. Sem despedir-se, meio atordoado, meio assustado, botou o rabo entre as pernas, saiu de fininho e nunca mais se ouviu falar dele.

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Adaptação do texto Fábula de los cerdos asados o la reforma de la educación, no livro Juicio a la escuela, Buenos Aires: Humanitas, 1976

8 comentários:

Unknown disse...

essa tecnocracia, dominou o mundo... nós não nos demos conta, pq somos parte dela

Anônimo disse...

É galere, tive que ler o texto duas vezes pra sacar o que ele queria dizer. E eu acho que o diretor-geral ta certo. Essa "tecnocracia" toda alimenta muitas bocas, o inútil é necessário, nem tudo é tão simples quanto parece. Mas sempre tem alguém com a cabeça mais fechada, com um pensamento pequeno e sem visão das coisas, que não tem dimensão sobre o que o mundo significa, propondo uma ideia obvia. Será que o Joboão não pensou que a ideia dele era obvia demais e que muito provavelmente outras pessoas ja não tinham tido a mesma ideia antes? Sera que, depois dessa primeira reflexão, ele não pensou "porra, se é tão simples, por que será que ainda não colocaram em pratica?". Ele deveria ter pensado melhor... mas não, pensou com a mentalidade de uma criança de 5 anos de idade e só mostrou uma visão limitada das coisas.

Resumindo tudo: Joboão era um cara com visão limitada. Quem defende esse cara, é ideologista. Quem age como o diretor, é realista.

Bem simples.

Bertoloco disse...

a questão do joboão era econômica véi, ele queria reduzir os gastos naturais e aumentar o rendimento por porco assado, o mesmo aconteceu com a ferrovia e em muitas outras áreas, principalmente no governo, no qual uma coisa simples, mas sériamente complicada faz com que hajam cargos escrotos e com pouca valia, para que assim sejam admitidos parentes, agregados e muitas vezes imbecis em geral.

Well disse...

Joboão não foi inteligente em contar a seu superior sobre sua idéia.Sem saber ele ameaçou um um ecosistema inteiro. Ele destruiria com sua simplificação milhares de empregos inúteis, inclusive o de seu chefe. Ocorreria uma crise se sua ideia fosse aceita. A burocratização do sistema de assar porcos devia movimentar muito capital. Se ele não ligasse para isso e se realmente quizesse ganhar dinheiro, ele deveria tentar por em pratica sua idéia, por si mesmo, de uma forma independente, na sua folga. Praticaria e desenvolveria um sistema eficaz de assar a carne suína. O venderia para uma firma sueca, que em escala industrial, poria abaixo a concorrencia. Esta em pouco tempo adotaria uma idéia similar a do lider de mercado. Funcionários passariam por reformas e cursos especializantes. O diretor e os chefes de sessão seriam trocados por sua falta de elasticidade perante essa nova situação ou mantidos por encarar com firmeza as mudanças drásticas do mercado. Os meios de produção sempre se reinventam de uma forma constante e uma idéia obvia persiste na mente do ser humano. Um cara com maior determinação que Joboão irá aplica-la.

Well disse...

Eh vdd, o lucas tah certo, o diretor soh quer perpetuar um sistema no qual ele eh o cabeça

Gabriel Lisboa disse...

Caras, o que este me texto me passou foi a idéia da acomodação e da burocratização excessiva, o que é muito comum principalmente em cargos públicos.
Eu percebi isso quando fiz estágio lá na Unesp.O pessoal é bem acomodado em seus empregos e vivem querendo cada vez menos dor de cabeça. Seria muito simples por em prática a idéia de Joboão mas teria que acontecer tudo isso que o Well falou de treinamento do pessoal e etc, e obviamente o resultado seria mais satisfatório a longo prazo. As pessoas comeriam mais porcos e estes mais saborosos, e devastariam menos a natureza. O problema é que ninguém é afim. O que me deu a entender é que ninguém nunca pensou nisso na história porque senão eles já teriam direcionado seus esforços nessa a área. O propósito principal do texto é mostrar como é a aceitaçao de uma idéia nova em alguns locais de trabalho.

Bertoloco disse...

o lance é colocar td mundo no paredão e cobrar a bala da familia

Unknown disse...

uAHUAHuhauAHuahuAh